quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"Sarjeta"

“Sarjeta”



Sentado num banco de cimento junto ao rio Tejo, entre o mítico reconstruído Museu da Electricidade e a passagem área das traseiras da antiga FIL, à força do habito ando ás voltas nos meus pensamentos da mesma forma que vejo as tainhas ás voltas na boca do esgoto.

Faz-me uma certa espécie todo aquele aparato. Do esgoto só saem fezes, pensos higiénicos encardidos de vermelho, preservativos supostamente usados, “gringas” a boiar dum “carocho” qualquer, sacos de plástico, tudo isto embrulhado em largos litros de urina humana entre biliões de germes e micróbios, mas mesmo assim as tainhas “lá” andam numa confusão mais “desgramada” do que o metro de Tokio em hora de ponta.

Mais parecido com tudo “isto”, ando Eu.

“Eu”, não no seu sentido nojento, encardido e bacteriano bem como horrendo, mas sim, “Eu”, na sua outra metáfora de atropelamento de ideias amontoadas onde muitas delas são única e exclusivamente desvanecidas em todo o seu processo conclusivo.

É que por vezes chega aquela altura na vida que temos de ter mais que um simples trabalho e uma vida pacata, é preciso arranjar uma outra ocupação, algo que nos estimule para a vida, para o dia-a-dia.

Enquanto andei na escola mais de metade do meu tempo foi ocupado por tudo aquilo que encontramos numa escola, estudo, colegas, amigos, 1ª’s baforadas atrás do pavilhão, amigas, trabalhos de turma em casa das tais amigas, ou seja, o tempo está sempre ocupado e ao mesmo tempo não tive de me preocupar com mais nada. Mas após essa fase e outras, quando conclui o 12º ano e não quis pensar em Universidades e tentei ingressar no “mercado de trabalho” e de uma maneira ou de outra lá consegui aquela “coisas” de cumprir um horário, por vezes “dar o litro”, e receber uns trocos no final do mês, até me satisfez ao inicio, mas “porra”, fazer uma vida de trabalho – casa, casa – trabalho quando apenas ainda estou na casa dos “20”. Não faz grande sentido, verdade seja dita que no meio disto tudo ainda tenho os amigos e as “carroças” ao fim-de-semana, e é nessa altura que me pergunto – “Então e os teus sonhos, puto?! Onde estão?!” – à mó de cima vem logo aquela sensação horrível e frustrante meio incapacitado que me faz ter destes baixos e pensar em tudo isto.

Mas antes de me sentar aqui, troquei o suposto passeio a pé, da Memória até ao local onde me encontro numa cómoda e curta viagem de carro, mesmo antes de estacionar o carro e de desligar o rádio chamou-me á atenção uma voz distorcida que saia das colunas dizendo: – “Trabalha, transforma os teus sonhos em matéria, Trabalha, transforma os teus sonhos em matéria, Trabalha, transforma os teus sonhos em matéria” – fez de tal forma tanto sentido que fiquei com a frase a fazer eco na minha grande cabeça.

Certezas, sonhos, tempo. Certezas que contrariam sonhos com o tempo, tempo que contraria certezas dum sonho. A única certeza é a de que tenho sonhos e tempo para contrariar a perspectiva de um Homem frustrado.

Por agora o vento é agreste e já começam a cair umas pingas, a cautela tem de ser muita, a aposta tem de ser confiante e a dobrar e se perder tenho de me aguentar, voltar a dobrar confiante, apostar e com cautela. Se ao menos fosse assim, mas por um lado ainda bem que não é, se não, não estaria aqui sentado a escrever tudo isto.









“Assis Manuel Branco”

1 comentário:

  1. Olha so que bela Sarjeta nos deixaste aqui ...
    Belas palavras ... belos pensamentos ...força acentuada numa voz que não se deve deixar perder no dia de amanha ...
    Não esquecer que para tudo isto acontecer é preciso confiança, é necessário ao ser humano nunca desistir e o nunca desistir é apenas porque nada é facil ... e nada é facil porque todos nós sonhamos, e o sonho muitas vezes se torna dificil e i-se fando num tempo que nunca vai ser apagado ... É isso que não deves esquecer ... Nada é facil, e a luta vai ser continua ! Mas guerreiros meu amigo são poucos... Por isso é sempre em frente o objectivo não dispersar ... assim não haverá ilusões apenas realidades de tempos bons e maus muito bem vividos ...é atraves do sonho que se vive a experiência :)

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